UM MOVIMENTO SILENCIOSO, MAS QUE CUSTA CARO

O quiet luxury não é uma tendência nova para o mercado de luxo. Conhecido como um movimento da indústria da moda que valoriza o minimalismo de peças com cores sóbrias, muita alfaiataria, um acabamento rico e um alto padrão de qualidade, o movimento se tornou algo a mais para a alta sociedade ao ser assumido como um verdadeiro estilo de vida, ou melhor dizendo, uma tendência de consumo.

Por Heloisa Krzeminski | Foto Studio HF, banco de imagens e divulgação

Alex Ferrer

“Como diz uma amiga minha, cofre cheio não faz barulho”, brinca Alex Ferrer, jornalista e assessor de imprensa especializado no mercado de luxo em Santa Catarina. Para ele, o quiet luxury é um movimento que sempre existiu nas camadas mais abastadas da sociedade e que chegou para seguir o caminho oposto da ostentação barulhenta, propagada principalmente pelos famosos da atualidade nas redes sociais. Traduzido do inglês como ‘luxo silencioso’, não poderia existir outro nome que se encaixasse melhor com a definição de uma tendência que valoriza o minimalismo e praticamente sussurra nos ouvidos o que é um estilo de vida luxuoso.

“Acredito que o quiet luxury seja um movimento que atenda apenas a um grupo, porque, mesmo que ele represente a discrição, as pessoas necessitam do reconhecimento, da validação para justificar o valor das peças que elas adquiriram. Seria hipocrisia dizer que quem adere não compra as peças por causa da marca”, explica Alex. Apesar ou devido a isso, com o passar dos anos, o quiet luxury conquistou tamanha popularidade que quase fez com que o movimento deixasse de ser silencioso. São incontáveis as marcas que já criaram coleções inteiras atendendo aos requisitos de atemporalidade, durabilidade e qualidade das peças, como a Louis Vuitton e Miu Miu, enquanto outras renomadas grifes da alta costura adotam-o como uma mensagem permanente, como a Hermès e Bottega Veneta, por exemplo. “O movimento se encaixa como uma quebra de paradigma”, responde Alex ao relacionar o movimento com a cultura do consumo em excesso. As peças características do quiet luxury confrontam a necessidade de, constantemente, refazer o guarda-roupa de acordo com as tendências em alta. Por isso, na teoria, o movimento prevê um ritmo mais lento para o mundo da moda.

E, apesar do luxo silencioso representar mais para quem está vestindo do que para quem vê, é interessante refletir sobre a relação das marcas com o padrão de consumo, afinal quem integra a bolha social de alguém que usa Bottega Veneta, sabe muito bem identificar um produto de marca mesmo sem enxergar qualquer etiqueta. “Acredito que exista uma questão possível de identificar em todos os segmentos, que é: quem adere ao luxo silencioso é uma pessoa discreta, que não usa rede social, que viaja e não posta, ou seja, o movimento está muito atrelado à postura que ela demonstra”, acredita o especialista.

UM ESTILO DE VIDA SILENCIOSO

Ganhando espaço para além das passarelas, parte do burburinho com relação à tendência foi formado graças às produções hollywoodianas que retratam a vida cotidiana da alta sociedade, como é o caso da série Succession, que conta a história dos Roys, uma família fictícia que controla um dos maiores conglomerados de meios de comunicação e entretenimento do mundo. Com um figurino impecável que trabalha muitas marcas referências do quiet luxury, ao assistir à série, percebe-se que o conceito não se resume apenas ao mundo da moda, mas a um estilo de vida elegante e sofisticado que transmite uma mensagem luxuosa sem excessos ou ostentação.

Com quatro temporadas, a série Succession terminou em 2023 e está disnonível no HBO Max

“Para a nossa região, o quiet luxury está muito presente na construção civil. O setor deixou de lado os cristais da ostentação, para dar espaço ao design de uma cadeira que não tem etiqueta, por exemplo, mas que, só de olhar o formato, você já sabe qual foi o designer que fez”, explica Alex. Para o especialista, o mesmo se aplica na arquitetura, que deixou de ser chamativa pelos excessos para se tornar atrativa ao estar em sintonia com o ambiente, enquanto abusa da qualidade dos acabamentos. “É uma forma equilibrada de demonstrar segurança”, reflete.

A tendência se estende para os automóveis, que se destacam pela funcionalidade. É claro que a marca não deixa de ser um fator determinante para a compra do modelo certo, mas nesses casos, os carros esportivos com designs chamativos dão espaço para modelos mais discretos das marcas mais luxuosas do mercado, como Mercedes-Benz, BMW e Lexus. Além disso, é possível observar a presença do quiet luxury até mesmo no turismo. Hoje, é comum, milionários optarem por destinos menos movimentados em hotéis discretos que prezam pela privacidade dos hóspedes, e o céu é o limite. Alguns escolhem a cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, como destino e outros decidem embarcar em uma missão espacial básica por $50 milhões.

FURANDO A BOLHA

Para Alex Ferrer, a ostentação é uma atitude presente em todas as classes sociais. “Independentemente de a pessoa ter dinheiro ou não, existem aquelas que ostentam dentro da própria bolha. Algumas marcas são consideradas de luxo dentro de cada classe, ou seja, existe o que é ditado como luxo pela indústria da moda e pelo individual da sociedade”, defende. “Afinal, ser discreto não depende de classe social”. Portanto, apesar do quiet luxury se reservar para as camadas sociais com poder aquisitivo suficiente para consumir as grandes marcas de luxo, a mensagem do minimalismo e da atemporalidade em itens de qualidade não precisa estar atrelada a elas. “Quando penso que o luxo é silencioso, não é só por causa da roupa que a pessoa veste, mas pelo comportamento. A elegância anda de mãos dadas com o silêncio ponderado, de uma pessoa com educação. Essas estruturas conversam umas com as outras, afinal, não adianta usar roupa cara e ter um comportamento arrogante”, conclui.

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