
Uma condição silenciosa, sem manifestações visíveis no corpo, mas que causa dores incapacitantes em
seus portadores e muitos outros desdobramentos que podem levar à depressão, alterações cognitivas,
entre outros. Entenda o que pode desencadear a doença, seus efeitos na vida daqueles que convivem
com a condição e os tratamentos desenvolvidos até hoje.
Por Heloisa Krzeminski | Foto Banco de Imagens
A fibromialgia, também conhecida como FM, pode ser compreendida como uma resposta exagerada do Sistema Nervoso Central a estímulos periféricos, tornando o paciente diagnosticado mais sensível à dor em todo o corpo. Caracteriza-se, mais especificamente, como uma síndrome crônica marcada por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, distúrbios do sono e alterações cognitivas. As causas mais comuns de gatilho da fibromialgia são eventos graves, como trauma físico, psicológico ou consequência de uma infecção grave. Além disso, é mais frequente em pacientes com histórico familiar da doença ou portadores de doenças crônicas.
Em 2023, o Projeto de Lei nº 0068 foi aprovado na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), reconhecendo portadores de fibromialgia como pessoas com deficiência e assegurando-lhes os mesmos direitos e garantias das demais pessoas com deficiências. Apesar disso, a fibromialgia é uma doença por vezes desacreditada pela comunidade. Isso se deve ao fato de a síndrome não apresentar lesão dos tecidos, uma vez que não há inflamação ou degeneração. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, um dos indicativos mais notáveis da fibromialgia não é físico, mas psicológico, manifestando-se por meio de depressão acompanhada de afastamento social.
Conforme a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), no Brasil, a fibromialgia afeta cerca de dois milhões de pessoas, sendo a maioria mulheres entre 30 e 55 anos.
SAIBA COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS
Conforme Roberta Costa Negro Silveira, médica reumatologista, os principais sintomas são dores de caráter variável, como queimação, pontadas, peso ou cansaço. Além disso, estão associados a este quadro de dor:
- Distúrbios do sono: causando um sono não reparador;
- Fadiga: dificultando a realização de atividades diárias e laborais do paciente;
- Distúrbios de humor: ansiedade e depressão;
- Distúrbios cognitivos: perda de memória e dificuldade de aprendizado.
Segundo a reumatologista, o diagnóstico da fibromialgia é feito a partir de um quadro clínico de dor crônica em várias partes do corpo, recorrente há mais de três meses, de padrão inespecífico e diferente de dor inflamatória ou por esforço. Não existem exames específicos para identificá-la, sendo caracterizado como um diagnóstico diferencial. “A FM é um diagnóstico de exclusão, ou seja, devemos eliminar outras causas de dor difusa, como distúrbios endócrinos, doenças neurológicas e musculares, entre outras”, explica.
Para Cristiani Pianezzer Paulo, 55 anos, os sintomas da fibromialgia apareceram em 2001, mas o diagnóstico aconteceu muitos anos depois. “Muitos médicos não aceitavam as dores como uma doença”, conta a ex-contadora. Com a confirmação do diagnóstico, a primeira reação de Cristiani foi de alívio após passar anos sentindo uma dor invisível. Ao mesmo tempo, sentiu-se deprimida ao descobrir que a síndrome não possuía cura. “Mas sempre acreditei muito na medicina e tentei ficar positiva e aguardar novos estudos que me ajudassem”, comenta.
ROTINA DEPOIS DO DIAGNÓSTICO
Por ser uma condição médica crônica, a fibromialgia ainda não possui cura. Contudo, não é uma doença progressiva ou que causa danos às articulações, músculos e órgãos internos. De acordo com a SBR, as manifestações de dores ao longo da vida do paciente devem ser tratadas com o apoio de um médico reumatologista na proporção direta de sua gravidade, proporcionando, em alguns casos, uma vida sem dor ou com um nível muito baixo. Além disso, os outros sintomas da doença também podem ser tratados adequadamente para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Praticar atividades físicas, conforme a SBR, pode ser um importante aliado para reduzir a dor e outros sintomas da fi bromialgia. “A atividade física é reconhecidamente um método não medicamentoso de grande impacto na melhora da dor, do humor e da qualidade de vida dos pacientes”, aponta a cartilha para pacientes com fibromialgia da SBR. “Deve, portanto, ser individualizada e prescrita pelo médico e, se for necessário, acompanhada por profissional especializado na área”.
No caso de Cristiani, a rotina depois do diagnóstico passou a contar com medicamentos, consultas periódicas com reumatologistas e a prática de exercício físico. Mais recentemente, a ex-contadora incluiu em seu tratamento o uso de canabidiol. Conforme o Conselho Federal de Enfermagem, o canabidiol (CDB) é uma substância canabinoide existente na folha da Cannabis Sativa, a planta da maconha. A substância, que não causa efeitos psicoativos ou dependência, possui grande potencial terapêutico neurológico. Para casos de fibromialgia, estudos do volume 31 da revista Neurociência, publicados em 2023, apontam a eficácia da substância tanto no controle da dor como no tratamento da ansiedade e da insônia em pacientes diagnosticados.
Para Cristiani, a parte mais difícil de conviver com a fibromialgia é lidar com os limites impostos pela dor. Atualmente, em decorrência do tratamento, ela é bem menor. “Consigo ter uma qualidade de vida melhor. Mas teve momentos bem difíceis, como subir escadas, caminhar, cozinhar, qualquer tarefa do dia a dia era difícil”, relata. Nestes casos, o suporte familiar se faz essencial para a manutenção da qualidade de vida do paciente. “Esteja sempre disponível. Disponível para ajudar com seus cuidados sem tirar sua autonomia, disponível para escutar o relato de cansaço e frustração quantas vezes for necessário”, explica Dra. Roberta. “Permitir que a pessoa com fibromialgia vá devagar com seu trabalho, mas sem cancelar planos, sonhos e desejos”.