
Mais do que peças de grife, o conceito de moda rompeu fronteiras e hoje diz muito
mais sobre comportamentos e atitudes em relação a uma nova forma de ver o
mundo. Nós conversamos com três personagens da área em Joinville que nos
deram uma visão de como o universo fashion vem, cada vez mais, acompanhando
as mudanças de comportamento e consumo do público.
Por Stella Bousfield | Foto Divulgação

Elishelm, proprietária da marca Vin Et Élégance (Foto: Susana Pabst)
A empresária Elishelm é proprietária da marca Vin Et Élégance, fundada com o objetivo de ajudar o público feminino na jornada do autoconhecimento. Rafael Bueno é estudante de design de moda, mas já tem um currículo invejável: há seis anos foi descoberto e apadrinhado pelo estilista Alexandre Herchcovitch e através dele teve suas criações apresentadas no programa Caldeirão do Huck. Scheila Schmidt é proprietária da loja de decoração Scheila’s Country House e é uma empresária sempre antenada em busca de novas inspirações para estar em sintonia com a moda.
Os três representam diferentes pontos de vista da moda, mas têm um em comum: o conceito de que ser elegante no mundo moderno vai muito além de vestir uma roupa elegante. “Nos novos tempos da moda, o conceito de chique assumiu uma abordagem mais diversificada e inclusiva. Antes, ele era associado principalmente à elegância tradicional e ao luxo ostensivo. O chique moderno agora valoriza a autenticidade, a individualidade e a atitude”, comenta Elishelm. A empresária Scheila Schmidt também acredita que ser chique é ter caráter, índole, decência, educação e cultura, princípios básicos da “chiquice”, como ela mesma diz brincando. Princípios estes que, segundo Elishelm, não se limita a seguir tendências ou usar marcas caras, e sim a expressar-se de forma única, confiante e consciente. “O chique contemporâneo valoriza a moda atemporal, priorizando peças que resistem ao tempo e não seguem tendências passageiras”, acredita. O estilista Rafael Bueno concorda que ser elegante
vai muito além do clichê de estar bem-vestido. Segundo ele, a elegância se encontra na totalidade do ser, afinal, moda é comportamento. “A forma como nos comportamos é mais importante do que como estamos vestidos e vai além de regras de etiqueta de como usar determinado talher ou a roupa “certa” para cada ocasião, pois isso pode ser facilmente ensinado. Ou seja, ser chique é ter equilíbrio entre aparência e conteúdo, é ser ético e estético,
respeitando a si e aos outros”, completa. Scheila diz ainda que a moda é muito efêmera e que cada pessoa deve ter a sua. “Moda é se ver e entender a maneira que uma roupa me deixa bonita, elegante e alegre. Em resumo: tem que representar você pois cada ser tem seu próprio estilo”, acrescenta.
O QUE RISCAR DO CLOSET

A proprietária da Scheila’s Country House, Scheila Schmidt (Foto: André Kopsch)
A partir do ponto de vista sobre a moda, Scheila diz jamais acrescentar ao seu guarda-roupa, calças tipo saruel (modelo que se caracteriza por ter um gancho bem baixo), que não favorece pessoas de baixa estatura, como
ela. “É muito complicado usar uma peça que está na moda, mas que não condiz com seu tipo físico”, exemplifica. Rafael também não aprecia este modelo de calça, mas prefere dizer “nunca diga nunca”. “A moda tem uma mania de mostrar nossas hipocrisias: revisita o passado e traz modelos outrora malvistos em uma nova versão que muitas vezes pode acabar agradando. Nunca se sabe quem seremos no futuro, então é importante estar aberto às possibilidades e, trabalhando na área, explorar diferentes peças é sempre enriquecedor”, opina.
Por sua vez, Elishelm fala que evita incorporar tendências excessivamente juvenis ou extravagantes ao seu guarda-roupa. “Optaria por peças atemporais e de qualidade, evitando roupas muito curtas, justas ou com estampas exageradas. Além disso, buscaria evitar materiais de baixa qualidade e modelos que não valorizem minha figura ou que não se alinhem com meu estilo pessoal”, atesta.
SER ELEGANTE: POR ONDE COMEÇAR?
Mas, então, qual a dica para ser elegante neste multiuniverso de conceitos? Para a empresária, o primeiro passo
é conhecer seu próprio estilo e identificar quais peças e combinações a fazem se sentir confiante e confortável. Este
processo, segundo Elishelm, envolve entender suas preferências pessoais, corpo e tipo físico, bem como estar ciente das ocasiões para as quais precisa se vestir. “É importante investir em peças básicas e versáteis que possam ser combinadas de várias maneiras e adaptadas a diferentes contextos, sempre buscando qualidade e bom caimento. E, por fi m, estar atualizado sobre as tendências da moda e incorporar elementos de estilo que estejam alinhados com sua personalidade também é fundamental”.
Ainda para os que desejam ter um layout em alta, Rafael sugere buscar conhecimento de moda, imagem pessoal e produção de moda em fontes confiáveis e, a partir disso, começar a entender e refinar seu estilo através da experimentação. “É necessário ponderar o que lhe cabe ou não, a moda oferece uma diversidade de estilos e é possível achar equilíbrio entre a imagem que visa transmitir e seus gostos, entender o que fica mais harmônico em você e, com base nisso, poder tomar decisões. A moda deve ser usada como maneira de expressão e jamais de repressão”, pontua.

O estilista Rafael Bueno (Foto: Andrea Vicente)
CHIQUE É TER CONSCIÊNCIA
Os novos profissionais da moda trilham um caminho rumo a uma nova consciência deste mundo. O estilista Rafael Bueno discorre sobre a relação deste universo com a realidade do planeta. Ele acredita que, com as informações cada vez mais alarmantes sobre crises climáticas, os níveis exorbitantes de poluição têxtil, como o cemitério de roupas no deserto do Atacama, a febre do ultra fast fashion e as situações análogas à escravidão de muitos dos empregados do setor, a preocupação por meios de produção e consumo mais sustentáveis vêm se acentuando a cada ano. “Não é possível ser chique sem se atentar com a procedência das peças consumidas, ver beleza em roupas advindas de um processo exploratório de pessoas e recursos não renováveis e muito menos em um consumo desenfreado que gera pilhas de resíduo têxtil a cada estação”, defende. Os salões de moda internacional também voltam o seu foco a este novo olhar com medidas políticas que guiam uma nova forma de ser e agir. Na
pauta, questões de sustentabilidade, como a nova legislação sobre design ecológico que inclui, por exemplo, a proibição da destruição de produtos têxteis e de calçado não vendidos. As passarelas também vêm sendo campo de expressão da valorização feminina, além de combate ao etarismo: marcas como Miu Miu, Balmain, Batsheva
Hay levaram às passarelas modelos de diferentes idades como um ataque ao preconceito pela idade. As mulheres maduras foram não só convidadas especiais das sempre disputadas primeiras fi las, mas também modelos e até formaram castings inteiros de alguns dos desfiles mais fundamentais da temporada. Isso mostra que, mais do que nunca, ser chique é estar bem, fazer o bem e ser parte essencial de um mundo trajado para os novos tempos.